terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O meu direito é o mesmo que o seu?

Poucos dias depois de chegar a Paris, no caminho de ir às aulinhas de francês, percebi um movimento de jovens em frente a uma igreja. Era muita gente. Fui lá assuntar e vi que eles protestavam contra o casamento gay e a adoção de crianças por casais homossexuais. Qual foi a minha surpresa e decepção ao perceber tanta gente com uma estrada enorme de vida pela frente, determinados a cimentá-la com intolerância e preconceito. 

Pois ontem, dia 21, o discurso de posse do segundo mandato de Obama foi de encontro à minha descrença no ser humano e me deu um pouco mais de gesso para fabricar alguma coisa parecida com esperança. O presidente estado-unidense defendeu os direitos das mulheres, dos gays, dos imigrantes, além de outras bandeiras que ele carrega desde antes de ser o que é hoje: reformas na saúde, seguridade social, políticas climáticas, educação, entre outras.

Os Estados Unidos, apesar de tudo que já fizeram de monstruoso para dominar a América Latina e o mundo - e ainda fazem-, são uma grande influência e continuam a ser a maior potência do planeta. Melhor que seja mais para o bem que para o mal. Falar em direitos de minorias é um grande avanço em tempos de tanta intolerância e coloca mais lenha boa nesse fogo. 

É tanta marcha pelo orgulho hétero, pelo direito da família, para que o outro não tenha o mesmo direito que a gente branca, bem nascida e católica, que ouvir um homem de tamanha importância dizer que não é esse o caminho é emocionante. 

Aqui na França, há atualmente um grande debate sobre o casamento civil para homossexuais, com projeto de lei sendo discutido pelo parlamento francês. A opinião de Obama é uma força inegável em favor do movimento pela igualdade de direitos no mundo. Não por acaso, acredito eu, um deputado francês conservador disse hoje ter mudado de opinião e agora é a favor do casamento gay. Quem sabe essa mudança não se espalha pelo mundo?

Sei que a política internacional dos Estados Unidos vai continuar mais ou menos a mesma e que os americanos não têm grana para colocar em prática dentro de casa todas as reformas que Obama defendeu, que há muita gente contra todas essas ideias, mas ele foi lá e disse. O homem mais poderoso do mundo disse que é favor de direitos iguais para homens, mulheres, gays, imigrantes. A intenção conta, a palavra conta. Tomara.

As passagens de que eu mais gostei:

"We are true to our creed, when a little girl born into the bleakest poverty, knows that she had the same chance to succeed as anybody else; because she is an american, she is free, and she is equal, not just in the eyes of God, but also in our own."

"It is now our generation's task to carry on what those pioneers began. For our journey is not complete until our wives, our mothers, and daughters can earn a living equal to their efforts. Our journey is not complete until our gay brothers and sisters are treated like anyone else under the law -- for if we are truly created equal, then surely the love we commit to one another must be equal as well...Our journey is not complete until we find a better way to welcome the striving, hopeful immigrants who still see America as a land of opportunity; until bright young students and engineers are enlisted in our workforce rather than expelled from our country".
 Barack Obama

Aqui tem o discurso todo.

Mais: para quem estiver por aqui, em Paris, convido a participar da manifestação pela igualdade de direitos - manifestation pour l'égalité - dia 27 de janeiro. Porque, como disse Obama, por mais que esses direitos sejam evidentes, eles não são auto-executáveis! A gente tem que ir lá defendê-los. Vamos?









2 comentários:

  1. Oi, Clarinha, você acaba de ganhar mais um leitor assíduo.
    Vi a manifestação dos franceses caretas pela TV. Quase não acreditei. A caretice cresce no mundo todo. Aqui no Brasil, já temos notícia de passeatas da TFP no sul. Há tanto protesto que deveríamos fazer todos - contra violência, ódio, intolerância, corrupção, etc etc. E esse pessoal preocupado em combater formas de amor. Que coisa.

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  2. Que ótimo, Alexandre. Fico muito feliz!
    É isso, a caretice e, pior que isso, a intransigência cresce a cada dia. A 'manif' dos conservadores franceses tinha quase 400 mil pessoas, acredita? Liberdade, igualdade e fraternidade para quem, não é?

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